Morroc
Tyr Daeg, Martius 14, 1011
Por volta de uma da manhã.
Já tinha bebido algumas e estava meio alto. Não foram um ou dois copos, não me lembro exatamente. Mas afinal, não se contam Sograts, simplesmente são para saborear, o álcool é secundário.
Luca Burnside, Magistrado na Organização VII estava de pé do outro lado da mesa, tinham duas mulheres com ele, não ouvi nada além de risos vindo delas a noite toda.
Eu estava meio sonolento, acabei acordando com o barulho de garrafas quebrando, uma das garotas tropeçou em alguma da meia dúzia vazia que já estava embaixo da mesa.
Luca estava apontando para mim e dizia alguma coisa que não entendi. Então a mulher que havia quebrado a garrafa se aproximou de mim. Tudo que era possível identificar nela no atual estágio de bebedeira, era que tinha os cabelos loiros, e a pele bronzeada, o resto estava muito embaçado para identificar.
Ela chegou bem perto.
– Então você é um herói...
Ela riu, e eu..
– Hã?
– Seu amigo me contou, você é um homem corajoso...
– Luca? Ele não é meu amigo e aliás...
Ela começou a passar a mão no meu peito, e reparei que ela parou para olhar uma parte da minha cicatriz mais recente, não... segunda mais recente, aqueles rasgos de garras de harpia nas minhas costas, com certeza não vão ficar bonitos... Abri mais dois botões pra ela ver.
– O maldito que me fez isso está morto com cinco tiros no peito, todas as balas saíram dessa menina aqui.
Puxei a Outlaw, calibre 45, uma beleza. Então olho pra loira e ela está pálida, parecia uma bichana assustada. Achei que estava de brincadeira, até ela pular pra trás e topar em uma mesa no caminho.
Eu pensei “Putz, ela deve ser meio perdida, ou retardada”. Me sentei e bebi mais um pouco. Não se passaram mais que alguns segundos e ela me puxou pelo ombro. Quando me virei e olhei pra ela, estava com um sorriso amarelo.
–Desculpe sou meio assustada mesmo.
–Ok..
Voltei a posição de antes e peguei o copo meio cheio que estava encima da mesa a minha frente. A mulher me puxou de novo, eu já estava sem paciência.
–E agora...o que foi?
–Ué, vai me deixar assim? Quer dizer, vamos conversar..
Deu um daqueles sorrisos que a gente compra por 500 zenys em qualquer cassino de comodo.
– Desculpa, você é muito sem graça.
Ela me olhou com uma cara de cética misturado com uma gansa de tpm. Ela parecia não acreditar no que tinha ouvido. E então a explosão.
–O que?! Quem você pensa que é?! Nenhum homem nunca me ignorou, seu viado!!
– Caralho, como você é chata.
A mulher estava em combustão, pegou um copo que estava na mesa vizinha e jogou o líquido na minha cara, começou a gritar e xingar, depois passou a atirar objetos em mim.
Quando Luca viu, correu pra segurar a louca, segurou-a pelos pulsos e a levou até a mesa onde ele estava antes.
– Você fica aí, e não faz mais merda!
Disse a ela. E então veio pro meu lado:
– Cara que porra você fez?!
– Eu não fiz nada, essa aí que é louca..
– Porra meu, uma gostosa dessas, você tem que relevar, eu até falei bem de você pra ela, tava toda assanhada.
Tudo que eu consegui pensar foi, que merda o cara tinha fumado.
–Puta que pariu, agora você ta querendo me arrumar mulher, desse tipinho aí...
–Tem gente que é muito mal agradecida mesmo..
– Vai se ferrar, não te pedi nada, agora não vem me falar merda, porque você não presta nem pra fazer o que é da sua responsabilidade. Naquela Organização cheia de gente incompetente e inútil você é um...puta merda..!
Ele só me olhou e disse:
– Cara você tem que relaxar.
Levantei, e joguei algumas moedas na mesa, o suficiente pelo que eu tinha bebido, talvez um pouco mais. Luca só ficou olhando, o bar estava muito cheio. Peguei duas garrafas de Sograt no balcão e saí. Merda, o efeito do álcool está passando e o rasgo nas minhas costas está latejando.
Preciso de férias.