Capítulo 2
Cardíaco.
-ATEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENÇÃO! - bradou o templário na redonda sala de reuniões do complexo militar subterrâneo conhecido como "A Central".
Todos os presentes ficaram de pé quando o velho entrou batendo sua bengala no chão, com ele estavam suas duas filhas Déborah e Sarah. Alexander fez sinal para que todos se sentassem e eles assim o fizeram, o velho andou com certa dificuldade até o seu lugar na mesa composta por dez lugares.
Sarah deixou a sala com seu típico tom nervoso, ja que ela não tinha sido promovida a Magistrada, não poderia ter acesso a reunião da alta cúpula da Ordem dos Sete.
Alexander se levantou após todos estarem sentados e disse com sua voz pouco rouca e carregada pela experiência de diversas guerras:
-Nós temos que mudar, não sei como, não sei para o que vamos mudar, mas essa mudança tem que ocorrer aqui e agora.
Houve então um burburinho na sala, os magistrados conversavam entre si e as túnicas de seda negra se agitavam no ar.
A reunião durou por horas a fio, os sete membros da cúpula discutindo o que fazer enquanto não chegavam a uma conclusão, Alexander estava mais quieto que o normal ele apenas observava o acalorado debate entre os membros da elite da sociedade secreta.
Então sua face lívida pareceu perder o sangue, ele segurou sua bengala com mais força enquanto mergulhava profundamente no poço de trevas que se formava a sua frente, as vozes das pessoas iam ficando cada vez mais distantes enquanto ele começava a escutar o barulho das bombas.
Império de Schwaltzvald, 25 anos atrás:
- CORRAM! - Bradou o Coronel.
A tropa de se levantou em um pulo e saiu da trincheira, assim que as primeiras cabeças entraram no campo de visão as Gepanzerten Enheit (mais conhecidos como Guardiões ou Panzers) de artilharia começaram a abrir fogo com suas bestas de repetição e canhões de plasma.
A tropa composta de justiceiros, caçadores e alguns templários foi dizimada, na pequena corrida de uma trincheira a outra a tropa que tinha 20 pessoas caiu para 8, a linha de artilharia estava cada vez mais proxima, há menos de 500 metros e abria um pesado fogo sobre os soldados que só podiam se proteger e arremeçar suas granadas.
Alexander rolou de lado e pegou seu rifle de precisão, ele não era muito bom com a arma mas tinha que fazer algo, ele se posicionou no topo da tricheira e começou a ajustar a mira telescópica, pelo telescópio da mira ele viu um Panzer mirar nele, era o fim.
Ele começou a rezar baixinho enquanto colocava a mira na cabeça do Panzer:
-Grande Heimdall, faça com que minha mente seja um reflexo de vossa sabedoria... - *BANG* O primeiro tiro acertou a cabeça do Panzer e arrancou um pouco da blindagem fazendo-o recuar um passo, mas logo após ele começou a caminhar novamente.
-...me dê discernimento para castigar a quem merece e trazer justiça ao mundo... - *BANG* O segundo tiro acertou o ombro do guardião que dessa vez nem se mexeu.
-...faça com que minha morte seja digna da lembrança dos que ainda vivem.- Ele deu o ultimo tiro que nem acertou o blindado, o braço dele ja havia acumulado energia o bastante para o disparo que se seguiu.
Tudo ficou escuro e Alexander sentiu o gosto da terra na sua boca, ele abriu os olhos e viu as luzes ofuscantes da luta no céu e no campo de batalha, ele sentiu quando alguém arrastava ele pelos destroços de um escudo estilhaçado, o reforço havia chegado.
-DESFIBRILEM!
Alexander sentiu a eletricidade percorrer seu corpo, agora velho e cansado.
Ele tentava se mexer enquanto a mistura de vultos injetavam-lhe liquidos para fazer seu sangue circular, ele procurou respirar mas seus pulmões não respondiam, o sumo-sacerdote elfo Alexander Wittëlsback, chefe da equipe médica da Organização VII entrou na sala de súbito e pediu para todos se afastarem.
Ele colocou a mão no ar logo acima do peito do Regente e bradou:
-RESSUSCITAR!
Os músculos do corpo do velho homem se contrairam fazendo-o se esticar involutáriamente e voltando a sua posição inerte, ele percebera que não estava piscando, o elfo fazia massagem cardíaca nele parando esporádicamente para olhar o relógio.
-Por Odin! Vamos perdê-lo.
Ele gesticulou para as pessoas se afastarem, e se concentrou mais uma vez.
-RESSUSCITAR!
Dessa vez além do espasmo no corpo, as luzes da sala piscaram, e o Elfo continuava a fazer massagem cardíaca e tentava procurar batidas com seu estetoscópio sem sucesso.
Do lado de fora do quarto suas filhas olhavam abraçadas seu pai morrer.
Mas o elfo não desistiu, e pela ultima e derradeira vez ele estendeu as duas mãos sobre o corpo do velho e gritou:
-RESSUSCITAR!
As lâmpadas estouraram no quarto, as maquinas de suporte desligaram, mas o elfo se aliviou ao ver que ele estava respirando.
O Elfo pode ouvir Alexander descendo da cama, e antes que ele pudesse acender a luz ele sentiu o cano frio do revolver do velho na sua testa.
As mãos de Alexander estavam tremulas a julgar pela oscilação do cano do revolver, parkinson.
-E-eu, quero o Lothar aqui... AGORA!
Naquela mesma noite:
As vozes abafadas na discussão acalorada do Regente e do Alto-Magistrado podiam ser ouvidas amplamente n'A Central, eles estavam a horas discutindo num tom de voz que parecia muito mais uma briga do que uma discussão sobre os rumos da agência. Do lado de fora, os sete magistrados esperavam a decisão do líder maximo e do seu braço direito, então a porta se abriu:
-... eu espero que você saiba o que está fazendo Eisenheim! - O templário saiu da sala visivelmente perturbado, ele estava suando.
Eisenheim saiu logo em seguida, batendo a bengala com a mão esquerda e com a direita no bolso:
-Reunam nossos associados no hangar, eu cheguei a uma decisão, quero Lothar e Kurosaki aqui antes de falar com o público.
Os magistrados bateram continência e sairam apressados.
Três homens de capa preta entraram na sala de reuniões d'A Central. Ela era redonda, sem janelas, apenas uma porta e completamente branca. Em seu centro havia uma mesa redonda e aproximadamente 10 cadeiras em seu torno. O trio de preto fazia um forte contraste na sala:
- Ahem... - O mais velho deles limpou a garganta e prosseguiu. - Eu vou ser direto. Estou pensando em trazer a Organização de volta as origens. Deixaremos de ser uma sociedade secreta, para passarmos a ser uma agência.
- Agência? Somos mercenários agora!? - O homem com chifres saindo pra fora do capuz protestou.
- Não esse tipo de agentes. Na época da VII do meu pai eles eram conhecidos como um grupo de agentes secretos que trabalhavam para a república, mas mantinham sua individualidade.
- Você quer fazer o mesmo, mas com a coroa, certo? - O de cabelos castanhos se manifestou.
- Correto. Eu falei com a rainha ontem. Ela gostaria que a VII fizesse parte da coroa, como uma agência que a mantem protegida.
- Seremos cães deles? - O cavaleiro protestou.
- Não, Kurosaki. A rainha concordou que nos daria a liberdade para agir como quisermos, contanto que continuemos a fazer nosso trabalho de manter a ordem. Em troca, teremos apoio financeiro e político. E instalações no castelo.
- Isso parece interessante...
- Não sei... - Kurosaki tinha dúvidas.
- Agora que estamos expostos, acho que não teremos nada a perder. Eu disse que daria uma resposta a rainha amanhã, por isso queria a opnião de vocês hoje.
- Eu estou de acordo com esses termos, Alexander.
- ...bom, que escolha eu tenho. Vamos com isso!
- Senhores, espero que não tenham compromissos para hoje. Com essa decisão, implicaremos grandes mudanças na Organização VII. Lothar e Kurosaki, tragam todos os arquivos e a papelada da Organização, vamos começar a organizar os documentos. Se nos apressarmos terminamos antes da meia noite. Ah, tragam café também.
- Antes da meia noite!? - O jovem se levantou da mesa no protesto.
Lothar se levantou em seguida.
- Kuro, busque os documentos. Eu pego o café, e leite também!
- Eu sozinho? Mas é pesado!
- Você é forte! - Lothar saiu da sala e sumiu pelos corredores deixando um Kurosaki resmungão para trás.
Embora os dois fizessem brincadeiras, Alexander não tinha humor pra rir. Muito pelo contrário...
A Central - Reunião geral sobre a reconfiguração da Organização VII.
O hangar estava em polvorosa, da forma assustadora com a qual a Organização VII havia crescido nos ultimos tempos não havia modo de colocar todos os membros na sala de reunião.
Atrás das mais de mil pessoas estavam os oito aeroplanos da Organização: Leviathan, Odin, Ifrit, Querzacolt, Alexander, Ramuh, Bahamut e Pleniluniu.
Todos fizeram silêncio quando o líder do grupo entrou em cena numa das aberturas de entrada para o complexo militar.
-As circuntâncias tem nos obrigado a agir cada vez mais violentamente contra os nossos inimigos, fazendo com que nós nos desviemos do real e derradeiro caminho desta Organização. - Alexander ostentava sua coroa no alto da cabeça e se apoiava na sua bengala. - Venho a vocês informar que os Sentinelas Marina e Rafael Spiderwick foram mortos em batalha com o time de defesa da Corporação Rekember.
Houve grande burburinho enquanto os Sentinelas tentavam manter a ordem entre os membros da organização.
-Por isso resolvemos - levantou a voz Kurosaki Kaen Flameryus, Alto-Magistrado que apesar de ser mais velho que todos alí tinha a forma de uma criança. - que a Organização VII passará por uma reconfiguração de segurança para a manutenção da mesma.
-Os cargos base continuarão os mesmos, ja os de carreira sofrerão mudanças - disse Lothar Shade Mustang, outro Alto-Magistrado. - Voltaremos a atuar como uma agência independente de inteligencia e resposta militar rápida...
Enquanto Alexander se retirava do alto da escadaria os Altos-Magistrados continuavam a explicar a situação.
Ao fundo, Kayron Grig, presidente da Academia dos Sábios, e um dos poucos civís que ja haviam entrado n'A Central esperava Alexander com um pergaminho amarelado nas mãos e um livro de magia embaixo do braço.
-Vamos com isso. - disse Alexander.
-Sim, ja passou da hora velho amigo. - disse Grig.
Alexander começou a ditar:
-Eu, Alexander Eisenheim Bentham Orumov II atesto faculdades mentais plenas enquanto dito este testamento e... - Grig mantinha o pergaminho aberto na frente de Alexander enquanto recitava um encando baixinho.
Eles avançaram noite a dentro com a tarefa mórbida, Alexander não sabia o que era um sono decente ha semanas, mas sua secreta dose de morfina o aguardava dentro do seu coturno.
Então ele se sentiu em paz, uma paz falsa, mas ainda sim paz.